Operar na bolsa é uma atividade que exige diversas qualidades de um operador/investidor para que esse se mantenha sóbrio e numa direção retilínea.
No entanto, nos últimos tempos, passamos por uma “glamourização” de um prazo operacional cujas estatísticas revelam ser mortífero para a maior parte das pessoas.
O day trade, operação em que sua abertura e encerramento se dá no mesmo pregão, seduz muitos novatos na esperança de conseguir lucros rápidos e suposta independência.
No entanto, em 2010, Barber, Lee, Liu e Odean investigaram (artigo) a performance de 130.000 daytraders de Taiwan ao longo de 15 anos e constataram que a minoria consegue ser lucrativa após pagamento de taxas e impostos, no longo prazo.
Ou seja, em 6 meses, mais da metade dos daytraders já desistiu da atividade. Após cinco anos, 90% já foi expulsa do mercado. Esses números já tinham sido apresentados pelo Professor Terrance Odean, no livro clássico de Burton Malkiel Randon Walk Wall Street.
Apesar da realidade mostrar o oposto, muitos encantados com a possibilidade de lucros rápidos e suposta liberdade (que te obriga a ficar, muitas vezes, horas na frente do computador) ignoram os empecilhos atrelados a essa abordagem.
Nesse artigo vou apontar o que normalmente não é contado sobre o day trade!
1 – Custos operacionais
As empresas geralmente buscam aumentar a sua margem de lucro. Seja aumentando o preço de venda do seu produto/serviço, seja minimizando os custos do negócio.
Até certo ponto será possível aumentar o preço de venda. Os custos da mesma forma.
Quanto ao indivíduo que opera, “aumentar o preço de venda do seu “produto” significa buscar buscar operações mais eficientes, encerrar as operações nos melhores pontos possíveis. No entanto, quanto menor o prazo operacional, mais errático e complexo é o sinal. A maior parte do movimento acaba sendo ruído.
Quanto à minimização dos custos, isso implica em realizar menos operações.
E é exatamente isso que o daytrade o força, aumentar os custos. Por isso um dos maiores inimigos do operador são os custos operacionais.
Um ponto chave a ser considerado é que a volatilidade média no intradiário é menor a cada time frame diminuído, enquanto os custos são fixos. Seja o de corretagem ou de emolumentos. Ou seja, você precisa ser muito mais eficiente num ambiente que te oferece menor espaço (e menos confiável) de movimentação.
Agora, gráfico da volatilidade média no gráfico de 15 minutos (3,13%):
Abaixo, gráfico da volatilidade média no gráfico diário (29,91%):
Veja agora o impacto dos custos num modelo tradicional de operações no mini índice e no mini dólar:
2 – Tempo de pregão
Uma operação de day trade é aquela em que seu encerramento se dá no mesmo dia à sua abertura.
No entanto, os sinais do gráfico intraday costumam ser mais erráticos, como já foi dito.
Muitas vezes vemos o mercado sinalizar um determinado movimento num gráfico intraday e somente em outro pregão converge para o lado esperado.
Veja, abaixo, o gráfico de GGBR4, que sinalizou compra num pregão, mas só foi andar no seguinte…
3 – Impostos
Os impostos são um tópico muito importante em qualquer área de atuação. Não é à toa o gigantesco número de pós-graduações em gestão tributária espalhadas pelas faculdades do Brasil, país em que a carga de tributos é praticamente um terço do Pib.
No mundo do Trading não é diferente:
- A taxa de 15% sobre o lucro em operações de posição (que duram mais de uma dia), com limite de R$ 20.000,00 em vendas por mês;
- A taxa incidente sobre operações de day trade é 20% sobre o lucro, sem limite de isenção;
Nos EUA, o percentual pode chegar a 28% sobre o lucro! (Fonte)
4 – Aspectos Emocionais
Uma das grandes dificuldades de atuação, não só no intraday, estão relacionados aos desafios internos inerente a cada indivíduo.
Os aspectos emocionais nos impactam muito mais do que você imagina.
Mas, no mercado, nossos trades passados costumam impactar os seguintes.
- Um trade finalizado no lucro tende a nos deixar mais otimistas e fazer com que corramos mais riscos nos próximos trades (efeito “dinheiro da casa”).
- Um trade finalizado no prejuízo tende a nos deixar mais pessimistas e fazer com que fiquemos mais medrosos nos próximos trades.
5 – Slippage
Esse tema é polêmico e pouquíssimo tratado nas discussões de mercado.
Slippage é a diferença entre o preço que o seu sistema deveria ter executado a operação e o preço que de fato executou.
Quanto menor for o prazo operacional e maior o capital empregado, maior será o impacto da falta de liquidez e, consequentemente, da slippage no seu modelo.
Veja o gráfico abaixo, denunciando o seu efeito.
Perceba que uma slippage média de 0,03 é capaz de fazer com que um modelo vencedor se torne perdedor.
Chocante, não?
6 – Sistema resiliente
Resiliente é algo capaz de se adaptar a mudanças, a choques, a diferentes cenários.
Um sistema resiliente é aquele capaz de sobreviver aos diversos tipos de mercado:
- Em tendência de alta
- Com baixa volatilidade
- Com alta volatilidade
- Em tendência de baixa
- Com baixa volatilidade
- Com alta volatilidade
- Em tendência indefinida
- Com baixa volatilidade
- Com alta volatilidade
Logicamente, o cenário ideal seria utilizarmos um modelo seguidor de tendência quando estivermos em tendências direcionais. Um modelo que trabalha volatilidade, com alvos fixos, quando estivermos em períodos nessa condição inseridos.
No entanto, a verdade é que para essas condições serem preenchidas precisaremos de uma bola de cristal!
Logo, encontrar esse tipo de modelo é muito complexo.
Pois além dos requisitos técnicos serem atendidos, precisamos ser resilientes emocionalmente!
É esse um dos motivos da existência da Messem No Alvo. O entendimento da situação de mercado para nos adequarmos de maneira mais apropriada.
É subjetivo? Sem dúvida! No entanto, quem disse que conseguimos ser objetivos diante da complexidade do mercado?
“É subjetivo, ou não conseguimos compreender tal complexidade?”